quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Gota D' água


Na última segunda teve início aqui em Vitória o IV Festival Nacional de teatro, e a escolha da peça de abertura, Gota D’água de Chico Buarque e Paulo Pontes, não poderia ter sido mais perfeita.

Li o livro há pouco tempo e o discutimos na aula de teatro e talvez por esse motivo eu estivesse tão ansiosa para ver a peça. Fiquei totalmente hipnotizada do início ao fim, os atores que dão vida aos personagens deram um show de interpretação. Consegui ver neles os personagens exatamente como os imaginava durante minha leitura da peça. Preciso destacar a atriz Izabella Bicalho que interpretou a protagonista Joana, que além de uma voz belíssima, emocionou toda a platéia com os olhares sofridos de sua personagem. A atriz conseguiu cumprir a difícil missão de viver a personagem imortalizada por Bibi Ferreira há 33 anos atrás.


A peça baseada na tragédia grega de Eurípedes – Medéia, muito mais do que contar a história de Joana e Jasão, fala do povo brasileiro, de suas dificuldades com a elevada concentração de renda, e do desafio de continuar vivendo e sorrindo em meio a tantos problemas econômicos e políticos. Escrita e encenada durante a ditadura militar em 1975, Gota D’água continua atual até os dias de hoje, cumprindo seu papel de protesto contra a injustiça social, a peça grita contra as desigualdades, o consumismo exagerado de uns que contrasta com a miséria da maioria, a exploração e toda a realidade social que já conhecemos, mas o brado maior é contra o conformismo das classes subalternas diante de tudo isso.

Além de toda a riqueza desse roteiro, Chico Buarque ainda nos presenteou com composições belíssimas que hora nos fazem ter vontade de levantar e dançar junto com as personagens e hora levam nossas emoções ao extremo, como na letra da música Gota D’água que dá nome a peça. Quem assiste ao espetáculo experimenta da forma mais intensa possível à riqueza do teatro e da música brasileira.

Não posso fechar esse texto de outra forma senão recomendando: Assistam a Gota D’agua, ou quem não tiver oportunidade pelo menos leia o livro e ouça a música. Vocês ficarão como eu conatarolando pelos cantos: “ Deixa em paz meu coração, que ele é um pote até aqui de mágoa, e qualquer desatenção, pode ser a Gota D’agua.”





SINOPSE

Peça inspirada na tragédia "Medéia" de Eurípedes. Em um conjunto residencial chamado Vila do Meio-Dia, localizado no subúrbio de uma grande cidade brasileira, mora Joana, uma mulher corajosa e batalhadora, abandonada pelo marido Jasão, que a trocou por uma menina muito mais jovem e rica. Jasão agora mora na casa do novo sogro Creonte e desfruta seu romance com a jovem Alma e o sucesso do seu samba Gota D’água, que toca em todas as rádios da cidade. A angústia e desespero de Joana, causados pela enorme dor da traição, evoluem ao longo da peça até culminarem no trágico final. (fonte: http://www.vitoria.es.gov.br/hot-sites/fnteatro/carlosgomes.asp)

ELENCO

Joana Izabella BicalhoJasão
André Arteche Creonte Thelmo FernandesCorina
Kelzy EcardEgeu Luca de CastroAlma
Maíra KestenbergZaíra Renata CelidonioXulé
Jorge MayaCacetão Lorenzo Martin
Estela /Letícia Soares
Crianças:Yago MachadoMariana RebelloAndressa Toledo

Músicos

Piano João Bittencourt Rodrigo De Marsillac
Baixo Ricardo Reston
Percussão Júlio BragaBateria
Percussão Roberto Kauffmann


TEMPORADA RIO

ESTRÉIA
14 de AGOSTO

CENTRO CULTURAL VENEZA

de quinta a domingoQUINTA E SEXTA - 20:30h
R$ 40,00 SÁBADO - 20:30h - R$ 60,00DOMINGO - 18h - R$ 60,00
End.: Av. Pasteur, 184 loja H

Botafogo TELEVENDAS (21) 3079-9779 - ingresso.com

domingo, 5 de outubro de 2008

Todos somos criativos...

Meu personagem infantil favorito é Peter Pan. Isso causa estranhamento nas pessoas não sei por quê. Talvez por não ser o mais popular das estórias infantis. Peter parece não dar lá as mesmas lições de moral que a maioria. Chapeuzinho vermelho ensina a ouvir sempre a mamãe, senão lobo mal pode pegar. Dê o melhor de si sempre, diz a estória dos três porquinhos. Mas pra mim o menino que não queria crescer, que quis manter para sempre a inocência de uma criança é a melhor de todas a lições.

Charles Baudelaire já disse: “O gênio é somente a infância redescoberta”. Crianças não têm medo de explorar, experimentar, ousar. Para provar isso basta você olhar para o seu joelho, provavelmente ainda existe alguma cicatriz nele dessa época, ou pelo menos a lembrança de uma. Quando crescemos e nos deparamos com o mundo real, algo nos trava de tal forma que hesitamos diante de um desafio. Ou então deixamos de dizer ou fazer determinadas coisas por medo do ridículo. Eu me lembro que muitas vezes quando era criança, criava novas brincadeiras e as colocava imediatamente em prática. Produzia os presentes mais bizarros para meu pai que os guardava sempre, eram tantos recortes, tantos papéis que ele nem tinha mais onde colocar tanta coisa.

Crianças recorrem sempre à imaginação. Quem nunca foi uma rainha ou rei, ou deu vida a seus brinquedos? Quantas fantasias, quantas aventuras se desenvolvem em uma mente infantil. Mas infelizmente as asas da imaginação vão sendo aparadas pouco a pouco pela sociedade. Os adultos tentam moldá-las de acordo com o que acham que é certo. Os pais fazem isso quando repetem a todo momento: - Você é uma mocinha precisa se comportar, fique quietinha. A escola também o faz impondo regras para tudo, freando a criatividade, como a história da criança que adorava fazer lindos desenhos coloridos e quando foi para o jardim de infância sua professora impunha as cores que deveriam ser usadas nos desenhos, então quando ela passou para outra série não conseguia mais desenhar sem que a outra professora lhe dissesse quais cores usar. É assim que o poder da mente criativa de uma criança vai se estreitando, começa a se conformar somente com o que já existe e não se anima mais a criar.

Quando entrei para a graduação uma amiga disse que não havia tentado publicidade por não ser nem um pouco criativa. A verdade é que todos somos criativos, mas o ambiente em que vivemos, a forma como fomos criados faz com que deixemos essa habilidade adormecida dentro de nós. Sei que não dá pra viver só de imaginação, que um dia temos que enfrentar a realidade, e isso não é ruim. Precisamos disso para tomar conta de nossas vidas, afinal papai e mamãe não podem estar ao nosso lado para sempre. Os problemas vêm, as dificuldades aparecem e é preciso maturidade e pé no chão para enfrentá-los. Mas isso não nos impede de redescobrirmos a infância e nos tornarmos gênios, como na frase de Baudelaire.

O que isso tem a ver com comunicação? Bom como estudante de publicidade posso afirmar que uma imaginação sem asas não te impedirá de ser um publicitário e você pode comprovar isso nas peças horrorosas e vazias que existem por aí. Agora, aqueles que às vezes fazem viagens à Terra do Nunca, são os que fazem ou farão a diferença.