
Li o livro há pouco tempo e o discutimos na aula de teatro e talvez por esse motivo eu estivesse tão ansiosa para ver a peça. Fiquei totalmente hipnotizada do início ao fim, os atores que dão vida aos personagens deram um show de interpretação. Consegui ver neles os personagens exatamente como os imaginava durante minha leitura da peça. Preciso destacar a atriz Izabella Bicalho que interpretou a protagonista Joana, que além de uma voz belíssima, emocionou toda a platéia com os olhares sofridos de sua personagem. A atriz conseguiu cumprir a difícil missão de viver a personagem imortalizada por Bibi Ferreira há 33 anos atrás.


A peça baseada na tragédia grega de Eurípedes – Medéia, muito mais do que contar a história de Joana e Jasão, fala do povo brasileiro, de suas dificuldades com a elevada concentração de renda, e do desafio de continuar vivendo e sorrindo em meio a tantos problemas econômicos e políticos. Escrita e encenada durante a ditadura militar em 1975, Gota D’água continua atual até os dias de hoje, cumprindo seu papel de protesto contra a injustiça social, a peça grita contra as desigualdades, o consumismo exagerado de uns que contrasta com a miséria da maioria, a exploração e toda a realidade social que já conhecemos, mas o brado maior é contra o conformismo das classes subalternas diante de tudo isso.
Além de toda a riqueza desse roteiro, Chico Buarque ainda nos presenteou com composições belíssimas que hora nos fazem ter vontade de levantar e dançar junto com as personagens e hora levam nossas emoções ao extremo, como na letra da música Gota D’água que dá nome a peça. Quem assiste ao espetáculo experimenta da forma mais intensa possível à riqueza do teatro e da música brasileira.
Não posso fechar esse texto de outra forma senão recomendando: Assistam a Gota D’agua, ou quem não tiver oportunidade pelo menos leia o livro e ouça a música. Vocês ficarão como eu conatarolando pelos cantos: “ Deixa em paz meu coração, que ele é um pote até aqui de mágoa, e qualquer desatenção, pode ser a Gota D’agua.”

